quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Fora Angra 3


1989 - FORA ANGRA!


A julgar pela foto acima, enviada pelo incansável Roberto Smeraldi, quem exagera na "metamorfose ambulante" é Lula, nosso presidente. Como cita com freqüência a música homônima de Seixas, conclui-se que o ex-parceiro de Paulo Coelho é o único que ainda escapou do realismo governista (ou seria autocrítica de resultados?) do transpresidente.

Depois de rever posição sobre transgênicos e transposição, Lula já chamou usineiros de heróis, defendeu o desmatamento na Amazônia como exercício de soberania. E vai entrar para a história como o presidente que reativou o programa nuclear, completando a usina de Angra-3 e lançando a pedra fundamental de pelo menos mais quatro centrais termonucleares.

Como disse de início, tudo bem mudar de idéia. Nem por isso deixa de ser irônica a imagem da foto, uma passeata realizada em 1989 contra... Angra-3. Aquele de barba preta, à esquerda (sempre), é Lula, claro. O segundo da direita para a esquerda, com a camiseta espalhafatosa e a boca aberta para falar (sempre), é o atual ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, cuja primeira grande obra no governo depois de suceder Marina Silva foi ultimar a licença provisória de Angra-3, como seu mestre mandou (embora seja radicalmente contra - sempre). À sua direita (sempre), Fernando Gabeira, candidato a prefeito do Rio. Entre eles, de bigode (sempre), Jorge Bittar, e um ex-prefeito petista de Angra dos Reis, Neirobis.

Quase duas décadas depois, Lula e Minc começam a tirar Angra-3 do papel.

Os manifestantes de 1989 provavelmente ririam do "compromisso" ora assumido. Se nem o local foi ainda escolhido, é piada acreditar que a construção do depósito comece antes de Angra-3 terminar.

Primeiro, porque ninguém combinou direito com os russos, quer dizer, com a Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), responsável legal pela deposição. O presidente da Cnen, Odair Gonçalves, já lançou água fria no fervor licenciatório do empreendimento Lulaminc (Licenciamento Urgente para Lula, Amigos e Maganos, Inc.) avisando que não dá para fazer projeto sem saber nem quanto combustível terá de ser armazenado. E, na hora em que o local for escolhido, a população, movimentos sociais e o Ministério Público entrarão em ação - para não falar da necessida de licenciar a própria obra do depósito pelo... Ibama.
Para completar a metamorfose, só falta Lula ressuscitar o colar de hidrelétricas no rio Xingu, a montante de Belo Monte. Aquelas que os empreendedores dentro e fora de seu governo hoje juram de pés juntos que não serão
necessárias.
Marcelo Leite http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br/