segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Lista das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção: divergências entre a Lista Oficial e a Lista dos botânicos


Márcia Neves

Em 2005, a Biodiversitas, por meio de um convênio com o Ibama, foi responsável pela revisão da lista das espécies das plantas ameaçadas de extinção no Brasil. Em um esforço inédito, 5212 taxa foram avaliados, resultando na indicação de 1495 espécies ameaçadas de extinção. O estudo, conduzido pela Biodiversitas, contou com a participação de 300 especialistas em botânica e a presença de representantes do IBAMA e MMA em todas as etapas de desenvolvimento do processo. Os critérios utilizados na avaliação seguiram a IUCN (2001), Vs. 3.1. Esta lista foi encaminhada a estes órgãos, que a avaliaram e concluíram que 472 espécies deveriam ser consideradas prioritárias para as políticas públicas do País. No entanto, a Biodiversitas, cuja postura é reforçada pelos colaboradores da revisão desta lista, esclarece que:

- a lista das plantas ameaçadas publicadas como ameaçadas de extinção – anexo I da IN 06 de 23 de Setembro de 2008, que soma 472 espécies, não reflete a totalidade da avaliação realizada pelo estudo encomendado à Fundação Biodiversitas com a participação dos especialistas em botânica brasileiros;

- a lista das espécies incluídas no Anexo II da IN 06 de 23 de Setembro de2008, como Deficientes em Dados (n= 1079) representa espécies consideradas ameaçadas de extinção (n=1054), deficientes em dados (n=2) e não ameaçadas (n=15), segundo o estudo da Biodiversitas e colaboradores;

- a lista das espécies correspondentes ao Anexo II da IN 06 de 23 de Setembro de2008, inclui 178 espécies classificadas como Criticamente em Perigo , 209 Em Perigo e 667 Vulneráveis, segundo o estudo da Biodiversitas e colaboradores;

- 17 espécies consideradas ameaçadas de extinção segundo o estudo da Biodiversitas e colaboradores não figuram no Anexo I ou no Anexo II da IN 06 de 23 de Setembro de 2008;

- a lista das espécies consideradas Deficientes em Dados segundo o estudo daBiodiversitas e colaboradores soma 2.513 espécies, além das 1495 avaliadas como ameaçadas de extinção.

A decisão do Ministério do Meio ambiente não encontra respaldo nos pesquisadores. Veja abaixo os comentários de alguns pesquisadores que coordenaram o processo de revisão, baseado em critérios mundialmente aceitos e plenamente balizada no que tange ao rigor científico:

"Na minha opinião parece não existir critério para a retirada das espécies ameaçadas de extinção, porque para alguns grupos mesmos os vulneráveis constam da lista. A indignação de todos é pelo número muito alto que foram cortados da lista oficial. O trabalho árduo que foi feito pelos especialistas junto com a Fundação Biodiversitas parece ter sido em vão." Dra. Olga Yano | Pesquisador Científico VI | Instituto de Botânica IBT – São Paulo Coordenadora do grupo Briófitas

"No caso da Amazônia sentimos falta, por exemplo, do cipó-titica (Heteropsis spruceana Chott) que havia sido indicada como ameaçada na região porém foi retirada da lista." Msc. Dário Amaral | Pesquisador | Museu Paraense Emílio Goeldi Coordenador do grupo Especial para a Região Amazônica

"A lista publicada pelo MMA não reflete a situação do conhecimento científico, e excluiu muitas espécies que ocorrem em áreas com pressão antrópica acentuada!" Dr. Alexandre Salino | Professor Adjunto III e Curador do herbário BHCB | Universidade Federal de Minas Gerais Coordenador do grupo Pteridófitas

"A decisão do MMA de excluir da Lista da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção dois terços das espécies indicadas pela comunidade científica brasileira segundo os critérios da IUCN foi uma decisão arbitrária e inconseqüente. A extinção de algumas dessas espécies pode ter sido oficialmente decretada." Dr. João Renato Stehmann | Professor Adjunto | Universidade Federal de Minas Gerais Coordenador do grupo Dicotiledôneas

"A homologação de apenas 472 espécies (cerca de 32%) do número sugerido pelos especialistas botânicos consultados trata-se de um grande retrocesso e uma grande decepção para a comunidade científica. Coloquei minha credibilidade em jogo coordenando mais de 50 botânicos empenhados em usar todos os dados disponíveis para refletir a realidade desesperadora do panorama de conservação no Brasil, para depois ver nossa listagem corrompida através de um processo capcioso e extremamente letárgico, que exemplifica muito bem a situação política que o Brasil atravessa neste momento. Uma verdadeira vergonha tanto a nível nacional como internacional." Dra. Daniela Zappi | Pesquisadora | Royal Botanic Gardens, KEW, Grã-Bretanha Coordenadora do grupo Dicotiledôneas

"A lista foi publicada num processo político e não técnico, por pessoas que não possuem qualquer informação sobre nossa biodiversidade." Dr. Marcus Nadruz | Pesquisador Titular III | Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro Coordenador do grupo Monocotiledôneas/Não-comelinídeas

"O MMA ao eleger por critérios políticos as 472 espécies da flora brasileira ameaçadas, colocou também em risco de extinção toda a diversidade vegetal brasileira, e deixou claro que os conhecimentos adquiridos e acumulados pelos taxonomistas, botânicos e ecólogos vegetais servem somente para nós mesmos, indo na direção contrária de toda a comunidade científica internacional. Como coordenador, me senti profundamente ultrajado, e este deve ser o sentimento de todos que participaram da elaboração desta lista" Dr. Jimi Naoki Nakajima | Professor Adjunto | Universidade Federal de Uberlândia Coordenador do grupo Dicotiledôneas/Euasterideas II



Márcia Neves
Centro Sapucaia

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