Uma iniciativa britânica, que está sendo apresentada a empresários brasileiros, mostra que é possível ganhar dinheiro por meio do uso eficiente de recursos e redução de resíduos. Em 30 meses de existência, o Programa Nacional de Simbiose Industrial do Reino Unido (Nisp, sigla em inglês) ajudou a elevar em mais de R$ 432 milhões as vendas da indústria e, em R$ 272 milhões, os investimentos do setor privado, disse Beatriz Luz, gerente regional do programa, durante encontro promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Embaixada Britânica no Brasil. Uma análise econômica independente do programa demonstrou que o governo do Reino Unido gasta menos de dois centavos em investimento no programa para cada libra (R$ 3,30) em vendas adicionais geradas as empresas participantes.
O programa busca transformar em capital, resíduos e subprodutos resultantes de processos de produção. "Nós trabalhamos como uma consultoria. A empresa nos procura com um problema, que pode ser o elevado volume de resíduos gerados no processo. Nós estudamos as possibilidades de sinergias e a saída pode estar em outra empresa, que, ao reprocessar o produto, pode reutilizá-lo com um preço melhor do que se fosse ao mercado comprar uma ¿matéria-prima virgem¿." Resultado: ganham as duas pontas. A que tinha "lixo" e viu sua receita crescer com a possibilidade de emprego do material por outra indústria, e a que comprou, que desembolsou menos recursos na aquisição da matéria-prima alternativa.
Um exemplo concreto citado pela representante do Nisp é o da parceria entre uma empresa química e uma alimentícia. "Um produtor de tomates queria ampliar sua produção, mas os custos elevados não viabilizavam o projeto. Havia uma empresa química que lançava gases na atmosfera e queria eliminar essas emissões. Juntamos os dois. Os gases que antes eram lançados na atmosfera, entre eles o CO2 e vapor quente, passaram a ter uma destinação do bem. Foram canalizados para uma estufa produtora de tomates, reduzindo o custo de produção."
Beatriz diz que o programa já conta com mais de 10 mil empresas. Mais de 80% dos membros do Nisp são pequenas e médias empresas. Um estudo desenvolvido pela Universidade de Birmingham mostra que, dos negócios realizados por empresas no âmbito do programa, 75% incluíram processo de inovação, 50% envolveram melhor prática e 20% novas pesquisas.
Além do negócio propriamente dito, há outros ganhos, como o ambiental, diz Beatriz. Desde a criação do Nisp, em 2005, deixou-se de lançar 2,95 milhões de toneladas de resíduos empresariais em aterros, eliminou-se mais de 310 mil toneladas de resíduos perigosos e reduziu-se em 2,5 milhões de toneladas as emissões de CO2.
De acordo com Beatriz, todos os resultados obtidos pelo Nisp são auditados por empresas independentes antes de serem publicados. "Entre os pontos fortes do programa está a sua flexibilidade e inovação tecnológica. É garantido o sigilo absoluto dos dados abertos pelas empresas que procuram ajuda. O programa não força o empresário. A participação é voluntária. O modelo de simbiose industrial vai além das práticas já conhecidas de uso eficiente de recursos, minimização, reúso e reciclagem. Cria-se uma rede de empresas de diversos setores industriais gerando uma comunicação e troca de idéias que até então não existia. O novo relacionamento comercial entre empresas permite um aumento de eficiência de produção, redução de custos e contribui para a sustentabilidade. Criação de projetos mais modernos, destinação mais eficiente de resíduos e o reúso intersetorial, podem criar novas parcerias industriais e até mesmo aproximar centros de pesquisa das indústrias."
Tudo começou em 2005, quando o governo britânico fez um estudo e concluiu que, em média, os aterros do Reino Unido tinham sete anos de vida útil e não havia mais espaço para novos aterros. Era preciso reduzir a quantidade de resíduos produzidos. A decisão foi a de elevar exponencialmente a taxa sobre resíduos de forma a estimular outra destinação. Com o apoio do Legislativo, criaram-se normas e incentivos. Na área da indústria, foram elaborados programas de suporte gratuitos. Paralelamente o programa-piloto do Nisp vinha sendo aplicado em duas regiões. O sucesso e o empenho dos empresários na sua ampliação eram tamanhos que o governo resolveu transformá-lo em um programa nacional. O modelo de consultoria gratuita respeita a lógica regional. O governo entendeu que era mais racional e o retorno mais eficiente com a contratação de consultorias regionais, que pelo seu conhecimento local, contatos etc. poderiam rapidamente identificar as necessidades e buscar soluções para os desafios industriais. Não errou.
DiárioNet
terça-feira, 1 de abril de 2008
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